“É Marapatá, porta de Manaus, é Marapatá, patati
patatá”. Música de nossos
compositores Armando de Paula e Anibal Beça que traduziram em canção a lenda da
Ilha de Marapatá.
A ilha
de Marapatá é conhecida como a Ilha
da Consciência, está situada na foz do Rio Negro, no Estado do Amazonas. Segundo
a lenda, é o limite da consciência do homem civilizado: quem sobe o Amazonas
deixa a vergonha em Marapatá. Então, quantas histórias, estórias e lendas esta
ilha esconde em seu dorso até hoje!!
A
lenda diz que aquele que passava por ela estava se anulando de suas raízes, se
eximindo de sua identidade cultural, ou seja, suas raízes culturais, suas
atitudes e comportamentos se modificariam com o lugar, perdendo a vergonha, a
moral. Na primeira estrofe, a música já alerta que esta ilha
é misteriosa: Que doce mistério abriga teu dorso de ilha afogada no curso das mágoas? Que mana maninha que dança
sozinha savana de seda pavana de cio. Campim canarana bubuia banzando, canção
enrugada, banzeiro de rio.
Com
o passar do tempo a lenda foi sendo modificada, mas sua essência de ilha
misteriosa não foi descartada. Vejamos algumas mudanças desde Euclides da Cunha
a Mario Ypiranga.
Euclides
da Cunha, em suas viagens pelos rios da Amazônia já definia a ilha de Marapatá
como tendo uma função preocupante, assustadora, dizia ele que era um local
lazarento de almas na fantasia popular: quem chegava deixava sua consciência na
ilha, ou seja, um local contaminado, as consciências eram contaminadas, as
identidades culturais eram alteradas. Um exemplo: transformava um homem santo
em um devasso. Essas trocas de identidades culturais do homem que se
estabeleceu na Amazônia favoreceram que a lenda fosse mais enfatizada para
justificar a mudança de comportamento para os advindos à terra do ouro branco. Como
a história conta, o período da borracha foi uma época de muita riqueza e de
muita solidão na selva: de queimar charutos com cédulas a comportamentos estereotipados
que o local proporcionava.
Mario
Ypiranga em 05 de outubro de 1963, no Jornal do Folclore, descreveu o mito
através do Sr Rufino Santiago, que tinha uma serraria na enseada da ilha, desvendando
o seu mistério: “trata-se de um
duende meio homem meio bicho, nomeado Jumutimpora ou Iumutimpora, versão oposta
do Mapinguari. Êsse Jumutimpora ao contrário de seus parentes quiméricos é
inofensivo para certa casta de indivíduos e de uma periculosidade fatal para
outros, conforme o caráter destes. Habita milenarmente a ilha misteriosa
deslocando-se rapidamente. Não se interessa por pessoas de bons costumes,
generosas, a quem auxilia, mostrando-se mesmo de uma prontidão corderil. De
outro modo ataca e estigmatiza para sempre a quantos se ressentem de boas
qualidades. Coisa notável, não devora as vítimas, apenas toma-as sob sua tutela
pelo menos enquanto o freguês não se transforma moralmente. É um bicho bom, mas
inimigo de pessoas trapaceiras”.
Hoje
temos a música Marapatá que foi a maneira de conhecer esta lenda tão antiga na
nossa cidade. A lenda traduzida em versos e música sobre o imaginário popular
de um século atrás, mas o recado é o mesmo: Vá logo deixando senhor
forasteiro a sua vergonha. Em Marapatá vergonha se verga na cuia do ventre, no
V das ilhargas vincando por lá.[...] Mas
dependendo da sua índole, o bicho que habita nela pode surgir e fazer você
deixar a consciência e a vergonha na ilha. Talvez hoje este bicho bom esteja
adormecido, mas quando acordar preparem-se os trapaceiros desta cidade!!!!
É Marapatá, porta de Manaus, é Marapatá patati,
patata...
Interessante... Isso explica a atitude de muitos turistas que, ao visitarem a região, se rebelam com a prática de atitudes das quais jamais repetiriam em sua terra natal... Liberdade e Floresta Amazônica estão interligados, sempre! É a verdadeira natureza (no sentido literal da palavra e do comportamento humano), ocupando o seu lugar...
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